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Opinião: o governo diz o que toda escola do Brasil tem que ensinar - sem adaptações

  • Luan César da Costa
  • 3 de fev. de 2024
  • 3 min de leitura

Nessa semana estão sendo organizadas na calorenta e deseducativa capital Brasília as reuniões do Plano Nacional de Educação (PNE), ou seja, estão discutindo o que todas as escolas do Brasil terão que ensinar nos próximos 10 anos. Desde a criação do Ministério da Educação e Cultura (o famoso MEC) em 1942 pelo ditador Getúlio Vargas todas as escolas do Brasil são obrigadas a seguir algumas coisas em comum: o ministro que inaugurou o MEC foi Gustavo Capanema, influenciado pelo ensino tecnicista norte-americano que visava formar operários para as indústrias em vez de pessoas e a exemplo dos regimes nacionalistas em voga na Itália fascista e na Alemanha nazista o "pai dos pobres" implantou uma educação nacionalista baseada na bandeira, no hino nacional etc. E desde então sempre tivemos uma educação determinada pelo Estado: na Ditadura Militar, com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) no governo de Fernando Henrique Cardoso em 1997, com a transformação do ENEM no vestibular nacional entre 2009 e 2010 e com a Base Nacional Comum Curricular implantada no governo de Dilma Rousseff (PT).

Eu tive a sorte de estudar num colégio que tinha educação local: eu estudei além do conteúdo determinado pelo MEC, História e Geografia de Fortaleza na minha 2ª série, História do Ceará na 4ª série e Geografia do Ceará na 5ª série. Foi na época em que eu era criança - a idade certa para estudar história local - e foi o diferencial da nossa escola na época porque nós sabíamos mais sobre o lugar em que nós vivemos do que as outras crianças e nessa época eu passei a ter mais interesse sobre o lugar onde eu vivo, mas mesmo assim foi uma educação incompleta: nós não sabíamos sobre as origens do povo cearense e eu tinha dúvidas.

De onde surgiu a sanfona no forró se ela não era usada em nenhum lugar que trouxe muitos imigrantes para o Ceará? Por quê eu sou branco e tenho alguns parentes mais brancos do que os portugueses? Por quê eu sou assim e não assado? Aí vem as respostas simplórias: você é indígena - mas eu não sou nem moreno para começo de conversa -, você é branco - mas os meus pais são morenos e eu tenho avós maternos negros -, aí eu comecei a fazer suposições vergonhosas: será que algum imigrante alemão veio para a minha família? Já que uns poucos franceses, italianos, alemães e libaneses chegaram para trabalhar em Fortaleza; mas não foi, eu só descobri alguns anos depois com uma professora de História formada na Universidade Federal do Ceará (UFC) e que conhece pesquisas sobre a história cearense que nós cearenses temos ancestrais dos Países Baixos que depois da volta do domínio português no atual Nordeste fugiram para lugares mais ou menos próximos à Fortaleza no interior e a região de onde veio a família da minha avó paterna tem estes ancestrais neerlandeses assim como em alguns lugares no Interior do Ceará conhecidos por terem gente bem branca. Aliás, um dos primeiros textos do "Fatos do Ceará" é sobre a esquecida influência neerlandesa no Ceará.

Onde está a exigência da aprendizagem de história local no PNE? Não tem; mas tem "os brancos", "os negros", "os índios", "os imigrantes" sem especificidades regionais: o indiozinho Yanomami de Roraima, o negrinho de Salvador e o loirinho de Blumenau (Santa Catarina) aprendem do mesmo jeito sem conhecer direito a história local. Antes só aprendiam história local para entrarem em algumas universidades como a Universidade Estadual do Ceará (UECE), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e as outras universidades estaduais paulistas - todas elas resistem até hoje ao ENEM e hoje com o ENEM nacional aprendem menos história local e se você é autista grave - eu tenho um primo que é assim -, você está dispensado da escola e não será mais obrigado a dar educação, nem educação específica como a educação domiciliar (homescooling).

Qual é o resultado óbvio desse sistema simplista centralizador imposto na cidade da burocracia? Ou melhor, na cidade onde vivem as brigas políticas do dia, opa, na capital federal...

 
 
 

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