As festas juninas em 2023
- Luan César da Costa
- 6 de jun. de 2023
- 6 min de leitura
Atualizado: 7 de jun. de 2023
Observação: Leia o artigo até o final para que você entenda o que eu quero dizer, não pare no meio do caminho para tirar conclusões erradas, só se consegue entender um artigo se você consegue ler até o fim.
Estamos no começo do mês das festas juninas aqui no Nordeste.
Aqui em Fortaleza só restaram as festinhas juninas escolares que só os alunos das escolas levam a sério e a maioria das quadrilhas restantes na cidade se você for ver as apresentações nos locais, você vai ver que usam muitas músicas de um disco junino da banda Mastruz com Leite vindo lá da década de 1990 - quem ainda frequenta quadrilhas por aqui pode confirmar o que eu digo.
Graças ao fato de as bandas de forró eletrônico terem sua sede na grande metrópole mais interiorana do Nordeste* - nenhuma surpresa -, para essas bandas terem uma maior aceitação, gravaram esse CD tradicional e outras bandas locais regravaram canções tradicionais em ritmos tradicionais - este último exemplo eu acho que é correto.
*Por quê eu digo que Fortaleza é a grande metrópole mais interiorana? Recife e Salvador têm suas culturas urbanas além de terem por óbvio acolhido os interioranos.
As fases do forró
No começo da década de 1990, época em que o governador era Ciro Gomes e ele era parte nessa época específica do PSDB de Tasso Jereissati, Fortaleza estava em uma fase de crescimento econômico típica de um país do Terceiro Mundo: empresários ganhando mais dinheiro, algumas pessoas comuns ganhando mais dinheiro e algumas pessoas comuns ganhando nada ou quase nada a mais.
Nessa época empresários como Emanuel Gurgel, criador do grupo Som Zoom Sat que continha as bandas Mastruz com Leite, Mel com Terra, a rádio Som Zoom Sat e outras empresas fizeram o forró eletrônico hoje chamado de "forró das antigas", que aos olhos de hoje têm músicas bem melhores que a média atual - temos como exemplo sucessos compostos pela cearense Rita de Cássia.
Olhando para trás, vemos hoje que é uma etapa de transição para o que veio depois:
b) forró com a consolidação dos ermpresários com casa de show e divulgação pela rádio entre o fim dos anos 1990 e começo dos anos 2000 com diversas bandas que o leitor já conhece e não vou colocar porque estenderia muito o artigo;
c) a formação de um oligopólio dos empresários de forró no fim dos anos 2000 e na década de 2010, formando um ritmo eletrônico moderno principalmente com Aviões do Forró e Wesley Safadão;
d) a ascensão do piseiro vindo do interior do Nordeste entre 2019, antes do Covid-19, se popularizou na época do Covid-19 e faz sucesso até hoje com um teclado que imita sons de instrumentos musicais, cantores e grupos: Barões da Pisadinha, Tarcísio do Acordeon, Zé Vaqueiro e João Gomes
e) e já temos desde 2 anos atrás um forró pós-moderno com coreografias feitas para o TikTok com cantores como Mari Fernandes, Matheus Fernandes e Wersley Safadão.
O que é legal de ouvir e cantar do forró eletrônico na minha opinião são muitas - não todas - músicas dos anos 1990 e 2000, de 2010 para a frente surgiram poucas músicas que agradam os meus ouvidos.
Elas estão longe de ser uma música do melhor compositor da história, Johann Sebastian Bach? Sim, elas são músicas de alto nível? Não, mas elas são bem melhores que músicas sobre o bumbum? É óbvio.
Só são músicas chicletes que dá para cantar num momento de lazer, no carro, ocupado com algum trabalho que não demande tanto esforço, ouvindo o rádio etc.
São músicas feitas para a diversão - que têm seu respectivo valor assim como alguns sertanejos, sambas, pagodes, axés e outros - e não clássicos da música universal.
Maracanaú
Enquanto houve um salto inflacionário que desvalorizou bastante o real, os empresários do forró começaram a encarecer aos poucos as suas festas com ingressos caros e bebidas caras sem uma divisão de preços para trazer mais pessoas para suas apresentações, como por exemplo promoções ou ingressos na metade do preço; em Maracanaú, o prefeito Roberto Pessoa lá pelos anos 2000, aos poucos começou a aumentar a festa junina da cidade - coisa que se manteve com a continuação do seu grupo político no poder até hoje.
Nesse ano de 2023 por exemplo teremos:
João Gomes - piseiro que agrada as massas;
Cláudia Leite - axé;
Léo Santana - swingueira baiana, cantor de "Rebolation" e da música do carnaval desse ano, a "Zona de perigo";
Tarcísio do Acordeon - ele canta piseiro, mas pelo menos ele é um dos últimos no meio forrozeiro a usar sanfona, se ele não for o último desses cantores de sucesso a usar;
Wesley Safadão - há alguns anos ele canta um forró muito eletrônico;
Felipe Amorim - reparemos as letras das músicas que ele canta;
Matheus Fernandes - ele é um compositor de músicas com temas aleatórios que é até criativo;
Zé Vaqueiro - piseiro;
Solange Almeida;
Zé Cantor - ele não é conhecido nacionalmente, mas agrada as massas locais
e Alok - o mais novo sucesso das festanças públicas do Nordeste.
O sucesso do DJ Alok aqui no Nordeste
Sobre o Alok, antes da crise do Covid-19, segundo um primo meu que hoje trabalha na prefeitura de Itapipoca ele fez uma apresentação de sucesso lá.
No ano passado, 2022, ele foi a principal atração do retorno do "Maior São João do Mundo" em Campina Grande (Paraíba), ou seja, houve uma rave pública no meio do Centro campinense.
E no último Réveillon da Prefeitura de Fortaleza - o mais novo sucesso do grupo político de Ciro Gomes -, entre o ano passado e este ano, ele comandou a festa no momento da virada na Av. Beira-Mar e pela empolgação do público na época, foi um sucesso.
Campina Grande
Sobre Campina Grande, pelo menos eles separam um ambiente para cantores industriais e outro para quadrilhas e forró tradicional.
Lá na região da Borborema o povo em geral sabe diferenciar o que é música industrial e música tradicional, ainda dão o nome certo às coisas - aqui as gerações mais novas confundem.
Fonte: pode perguntar a uma pessoa jovem e a uma pessoa idosa se há uma diferença entre um CD de quadrilhas do Mastruz com Leite - música industrial com forte influência tradicional, mas já industrial - com uma música mais tradicional.
E lá eles conhecem cantores tradicionais, não só o Luiz Gonzaga - o mais lembrado em Fortaleza e no resto do Brasil - como também lembram de cantores paraibanos como Jackson do Pandeiro, Zé Calixto, Biliu de Campina etc.
Mas o povo gosta mais de forró eletrônico e sertanejo, os sucessos da festa junina de lá.
Quando a sertaneja Marília Mendonça era viva, o "Parque do Povo", uma praça onde fazem essas apresentações que comportam toda a festa pública fechou de tamanha lotação em 2019 - nenhuma surpresa se tratando do sucesso dela.
Eles fecharam outras 3 vezes na última festa antes do Covid-19 por lotação máxima o palco principal.
Mas venhamos e convenhamos, essas apresentações de música industrial - exceto as de músicas industriais juninas - não são juninas, o certo é tirar o nome "São João" porque não é festa junina, é festa que poderia ser realizada em qualquer mês do ano e usam além do nome de São João Batista os nomes de Santo Antônio e São Pedro.
As informações sobre o São João de Campina Grande vêm da minha amiga por lá: a linda e simpática Thayná Gomes de Lima, que é nascida em João Pessoa, mas mora na Borborema.
Ela é uma adolescente comum de hoje - hoje eu tenho 19 anos e vou fazer 20 em agosto -, mas conhece alguns cantores de forró pé de serra da Paraíba porque eles preservam esta parte da memória local.
Eu gosto desse aspecto dela, ela tem 2 anos a menos do que eu, mas conhece mais sobre essa parte da memória local do que eu.
Conclusão
Eu não sou prefeito, vereador, nem tenho relação com prefeituras, mas está aí o registro de como estão as festas juninas hoje, é um trabalho reflexivo.
Devemos separar a música industrial feita para as massas da música tradicional feita pelo próprio povo.
A função dos municípios na cultura deveria ser promover suas festas tradicionais com cantores e grupos que fazem um trabalho tradicional - sem músicas industriais do Mastruz com Leite ou do resto do grupo SomZoom Sat, mas sim com releituras de músicas tradicionais feitas por cantores industriais - e incentivar a alta cultura nos seus municípios, o resultado seria melhor para o povo dos municípios nordestinos que teriam suas origens vivas para as novas gerações.
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