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A decadência das artes das elites

  • Luan César da Costa
  • 6 de jul. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de jul. de 2023

Um detalhe assaz interessante para ver como está o nível da elite brasileira: um morador da vila onde eu moro ouviu no domingo da semana passada o jornalista Tom Barros falando na Rádio Verdes Mares sobre os grandes aniversários dos trigêmeos herdeiros de Ivens Dias Branco Júnior, o atual dono do grupo M. Dias Branco - o maior moedor de trigo do Brasil - composto por Fábrica Fortaleza, Richester, Adria, Pilar, Vitarela e Piraquê e o maior empregador do Ceará.

Tom - que foi convidado para a festa desse ano - contou que em 2021 estavam cantando na festa Luan Santana - sertanejo universitário - e... Anitta, que nos últimos anos fez sucesso cantando um tipo de funk que antigamente se chamava de "proibidão".

Ou seja, você gostando da Anitta ou não, a elite brasileira aos poucos começa a ouvir os mesmos proibidões que algumas pessoas comuns ouvem.

Antigamente houveram exemplos de elites que promoviam e apreciavam a boa cultura e consequentemente o povo conhecia obras de alta cultura junto com eles: Sófocles na Atenas de Sócrates, Platão e Aristóteles era um humorista que tinha peças de teatro que eram vistas por pobres e ricos nos anfiteatros e William Shakespeare na Londres do século XVII também lotava anfiteatros com pobres e ricos.

Shakespeare é tão influente que uma novela muito reprisada com sucesso no "Vale a Pena Ver de Novo" da Rede Globo é uma adaptação brasileira de sua peça "A Megera Domada": O Cravo e a Rosa (2000), ambas fizeram sucesso porque são comédias em torno de Petruccio, sua mulher e seus cotidianos comuns, daí o autor de novelas Walcyr Carrasco passou a usar a comédia em outra novela reprisada com sucesso: Chocolate com Pimenta (2003-2004) e em outras.

A família Medici, que na Florença do século XV mandava na cidade, financiou os renascentistas apesar de controvérsias graves de alguns artistas e com isso houveram avanços na proporção das pinturas.

No fim do século XVIII nobres aristocratas austríacos promoveram um dos maiores compositores da história da música clássica: Wolfgang Amadeus Mozart.

As elites ocidentais começaram a piorar quando chegaram os burgueses banqueiros e industriais nos séculos XVII, XVIII, XIX e XX que desenvolveram a partir da Revolução Industrial e dos iluministas no século XVII a cultura burguesa da vaidade, da soberba e das aparências que se apropriou da música clássica como símbolo de status social.

E depois disso as belas artes foram ladeira abaixo porque o financiamento das elites, que querendo ou não espalham as belas ou feias artes para o resto das pessoas, diminuiu porque foi aos poucos para as feias artes.

Eu não conto com o financiamento de algum grande empresário para o meu trabalho, mas seria melhor chamar um bom pianista por exemplo do que uma moça que eu não sei se canta bem porque eu não sou especialista em música, mas que hoje só canta "proibidão".

E para piorar a situação, o financiamento opcional de artistas feito por empresas chamado Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) é feito por uma seleção estatal.

No trecho que está no link abaixo o cantor Ney Matogrosso, um dos principais expoentes da MPB - um ritmo musical que usa muito dinheiro vindo dessa lei - , conta que enfrentou muita burocracia ao tentar financiamento por essa lei apesar dele próprio ser considerado um expoente da cultura brasileira, burocracia que ele não enfrentou na prefeitura de Juiz de Fora/MG por exemplo.

Entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo em 2011 com a jornalista Marília Gabriela entrevistando:

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Ney Matogrosso não conseguiu financiamento por essa lei, imagina um cantor ou desenhista qualquer, por isso eu nem conto com essa possibilidade.

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