Censura na ESPN é prática vinda da matriz nos Estados Unidos e temos casos similares em outros canais
- Luan César da Costa
- 22 de abr.
- 6 min de leitura
Dos criadores de hastags usadas nas redes sociais como #PremierLeaguenaESPN, #LaLiganaESPN, #ItalianonaESPN, agora temos #CensuranaESPN.
A revista Piauí publicou uma reportagem chamada "As extravagâncias sem fim da CBF" sobre viagens pagas pelo órgão que manda na Seleção Brasileira para a última Copa do Mundo realizada no Catar para políticos, familiares e amigos do presidente da CBF Ednaldo Rodrigues e sobre relações íntimas entre Rodrigues e um instituto do filho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Esta matéria foi tema na última segunda de uma edição especial de mais uma dos trocentos programas chatérrimos de mesa-redonda da ESPN: o "Linha de Passe".
Segundo o portal especializado em TV "Teleguiado", executivos da ESPN pensaram em demitir o apresentador do programa e comentaristas como Paulo Calçade e Gian Oddi; mas não demitiram porque uma demissão poderia ser mal vista. Ainda segundo este site, no dia seguinte houveram várias reuniões feitas por executivos para decidir o que fazer depois da insatisfação do presidente da CBF, mas um funcionário que trabalha na parte editorial se demitiu para acabar com a história.
Ainda segundo o "Teleguiado", não havia risco de rompimento do acordo de transmissão assinado na semana passada para a ESPN transmitir a Série B, mas mesmo assim o programa "Linha de Passe" não foi ao ar por 2 dias. O comentarista Gian Oddi disse que certos procedimentos internos não foram seguidos: leia-se informar à direção da emissora sobre a veiculação de um programa que pudesse incomodar autoridades para preparar argumentos e a CBF disse que os sites que disseram que houve insatisfação do presidente da entidade com a ESPN disseminam uma narrativa "mentirosa e leviana".
Gian Oddi querendo preservar seu emprego, ou seja, de agora em diante acabam as eventuais reclamações sobre o calendário do futebol brasileiro nos programas do que eles chamam de "Líder mundial em esportes": agora a regra é boquinha fechada para manter os direitos de transmissão de 2 torneios que ninguém se importa como a Série B - o famoso campeonato onde nenhum time quer estar - e a decadente Copa do Nordeste que a cada ano aumenta seu desinteresse com o crescimento do futebol nordestino.
A aliança das grandes emissoras de TV aberta com a CBF
Na Rede Globo, o ex-atacante Roger disse na transmissão do último jogo da Seleção Brasileira que foi uma goleada dada pela Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo palavras duras contra o presidente da CBF mandando ele trabalhar; a candidatura frustrada do craque Ronaldo Fenômeno à presidência da CBF veio à público pela 1ª vez no programa "Mais Você" em um café da manhã com Ana Maria Braga; no fim do ano passado em transmissões de jogos das Eliminatórias Roger e o narrador Luiz Roberto de Múcio criticaram a CBF e eventualmente opiniões contra a CBF são ditas na SporTV. A situação está tão ruim que as Organizações Globo que geralmente apoiam as gestões da CBF para exibir suas competições e partidas das Seleções Brasileiras masculina, feminina e de base na Rede Globo e nos canais SporTV e Premiere exibem críticas de comentaristas.
Atualmente a Rede Record tem os direitos de exibição do Campeonato Brasileiro adquiridos da Liga Forte União (LFU) e nos anos 2000 exibiu torneios da CBF sublicenciados da Globo - só para citar acordos mais recentes, por isto esta rede geralmente não emite visões contrárias às administrações da CBF. Uma das poucas coisas que apareceram sobre o assunto em meios de comunicação do Grupo Record e da Igreja Universal foi o texto "'Extravagâncias sem fim da CBF' já repercutem no Senado" que foi publicado por um colunista do grande jornal regional "Correio do Povo" de Porto Alegre, que pertence ao Grupo Record.
Atualmente o SBT só tem adquiridos da CBF os direitos de transmissão da Copa do Nordeste que na verdade não são da rede, mas da TV Jornal do Commercio do Recife que lidera o consórcio SBT Nordeste que conta com todas as afiliadas nordestinas da rede. A rede segue no departamento esportivo uma prática de Sílvio Santos no jornalismo: evitar críticas à presidência da CBF do mesmo jeito que o SBT evita críticas aos presidentes do Brasil independentemente de quem é o grupo político dominante.
Assim como a ESPN, quem também exibe partidas da Série B do Campeonato Brasileiro é a RedeTV!, que começou sua fase com este nome depois da compra da Rede Manchete fazendo uma entrevista bajulando o então presidente Fernando Henrique Cardoso em 1999 assim como aquela rede apoiou Lula nos anos 2000, Bolsonaro durante o governo dele e atualmente apoia Lula mais uma vez. Do mesmo jeito é com a CBF, eles não fazem jornalismo investigativo contra a entidade assim como eles não fazem jornalismo investigativo sobre assuntos nacionais.
A Rede Bandeirantes em 11 de abril de 2025 não tem contrato para exibir nada da CBF, mas nos anos anteriores exibiu a Série B e anteriormente exibiu torneios da CBF em parceria ou sublicenciamento com a Globo. Pelo menos atualmente eles têm Neto que apesar de falar muita besteira, às vezes diz verdades e críticas à CBF - o "craque" falou do assunto ao contrário de empresas que têm contratos com a entidade como Globo, Record e CazéTV - desde a época que a Band exibia torneios esportivos sublicenciados da Globo.
Ele disse em 2023 depois que o Brasil foi derrotado pela Argentina no Estádio do Maracanã que a CBF ligava todo dia para a Band para "pedir a cabeça" do autoproclamado craque porque na época o canal paulista exibia a Série B, mas nos últimos anos aquela rede tem suas maiores audiências e repercussões com apresentadores bocudos que falam muita besteira como Neto e Datena - o que gerou dependência.
Ainda na Band, em 2004 o apresentador Jorge Kajuru, que é outro bocudo que fala muita besteira denunciou que 10 mil convidados endinheirados do governo de Minas Gerais liderado na época por Aécio Neves entraram na entrada preferencial para deficientes - o que a lei proíbe - em um jogo entre Brasil e Argentina no Estádio Mineirão em Belo Horizonte. Ele foi afastado da apresentação do programa "Esporte Total" e demitido dias depois, o que é considerada censura.
ESPN vendida também existe na matriz norte-americana
A ESPN tem um histórico de rabo preso com autoridades esportivas também nos Estados Unidos: a partir do fim de agosto de 2003, estreou a 1ª série ficcional da emissora que foi "Playmakers", que mostrou um lado dramático do futebol americano enquanto o canal exibia o principal torneio desse esporte: a National Football League (NFL, Liga Nacional de Futebol americano dos Estados Unidos). Segundo um dos principais atores da série, ele disse que devido à pressão da NFL, os principais executivos da The Walt Disney Company na época: Michel Eisner e Bob Iger achavam que cumpriram seu papel e depois um executivo do canal disse literalmente para ele que "A NFL não quer que a gente mantenha" [a série] e um ex-executivo da NFL disse em entrevista a um site norte-americano que não houve pressão para sair do ar.
A ESPN estava em processo de renovação dos contratos de transmissão do futebol americano e depois que encerrou a série em 2004, houve a renovação de contrato. Esta série só está disponível para ser assistida comprando o antigo DVD da série ou no YouTube onde fãs colocaram episódios, ou seja, não está disponível no Disney+ apesar de ter aumentado a audiência da emissora, de ter sido premiada e de ser lembrada até hoje.
Em 2013 o programa "Frontline" (Linha de Frente) da PBS (rede pública de televisão dos Estados Unidos) estava fazendo uma reportagem investigativa em parceria com 2 repórteres da ESPN sobre lesões na cabeça de jogadores da NFL e de repente a ESPN se desvinculou da produção do documentário depois de 15 meses de produção, mas o programa foi lançado só pela afiliada da PBS que produz o programa "Frontline".
Em julho de 2015 2 apresentadores da ESPN2 norte-americana - entre eles um dos criadores do premiado programa de documentários "30 for 30" - receberam pedidos para acabarem com comentários críticos ao comissário (líder) da NFL sobre o tratamento que ele deu para acusações de violência doméstica contra um jogador. Depois desses comentários, a NFL puniu a ESPN colocando jogos com menos apelo popular para serem exibidos no único dia que aquela rede exibia jogos: as segundas.
Enfim, a ESPN só tem de bom além de coisas interessantes como futebol europeu a produção de documentários esportivos interessantes até sobre temas desinteressantes dos esportes, os resumos de matérias sobre futebol europeu feitos pelos comentaristas que são lidos durante as transmissões, correspondentes como João Castelo Branco na Inglaterra e o melhor correspondente da TV brasileira atualmente que é Gustavo Hoffman em Madrid. Situação lamentável.
Bibliografia:
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